RA-HOOR-KHUIT

Ra-Hoor-Khuit (também escrito Ra-Horakhty ou Ra-Herakhty) é uma divindade composta na mitologia egípcia antiga, combinando aspectos de Rá, o deus do sol, e de Hórus, o deus celeste associado à realeza e à proteção. O nome "Ra-Hoor-Khuit" pode ser decomposto da seguinte forma:

— Ra: O principal deus do sol na mitologia egípcia, frequentemente representado como um homem com cabeça de falcão e um disco solar em sua cabeça. Rá representa o sol, a criação e o poder que dá vida.

— Hoor (Hórus): Um deus de cabeça de falcão associado ao céu, à realeza e à proteção. Hórus é frequentemente ligado aos faraós, que eram considerados suas encarnações terrenas.

— Khuit: Isto pode ser interpretado como uma referência ao "horizonte" ou "céu", vinculando a divindade aos aspectos solares e celestiais.

Ra-Hoor-Khuit representa, essencialmente, a forma unificada de Rá e Hórus, incorporando o sol em seu zênite e a autoridade divina dos faraós. Essa divindade é frequentemente associada ao sol da manhã ou ao sol nascente no horizonte, simbolizando renovação, poder e realeza divina. Na arte, Ra-Hoor-Khuit é tipicamente representado como uma figura com cabeça de falcão e um disco solar com uma serpente, combinando a iconografia de ambos os deuses.

Em um contexto mais amplo, Ra-Hoor-Khuit também aparece em tradições esotéricas modernas, particularmente no Livro da Lei, onde Ra-Hoor-Khuit é apresentado como um deus da guerra, da vingança e da conquista, refletindo um aspecto mais agressivo e transformador.

Na tradição Thelêmica de Aleister Crowley, Ra-Hoor-Khuit (frequentemente escrito também como Ra-Hoor-Khu ou Ra-Horakhty em contextos egípcios) assume um papel distinto e poderoso, divergindo da interpretação tradicional mitológica egípcia. Dentro da Thelema, Ra-Hoor-Khuit é uma figura central no Livro da Lei, que Crowley recebeu através de uma experiência canalizada em 1904, no Cairo, Egito, de uma entidade chamada Aiwass. Esse texto serve como escritura fundamental em Thelema.

No Livro da Lei, Ra-Hoor-Khuit é introduzido no terceiro capítulo, que é atribuído a ele. Ele é descrito como um deus da guerra, da vingança e da conquista, personificando a energia ardente, ativa e transformadora da nova era — o Aeon de Hórus — em 1904, suplantando o Aeon de Osíris (associado ao auto-sacrifício e às religiões patriarcais, como o Cristianismo). O Aeon de Hórus é uma era de individualismo, auto-realização e afirmação da vontade pessoal, condensada a máxima: "Faze o que tu queres, há de ser o todo da Lei."

Ra-Hoor-Khuit é apresentado como o aspecto ativo e marcial de Hórus, contrastando com Hoor-paar-kraat (Harpócrates), a forma silenciosa e passiva de Hórus associada à contemplação interior e ao mistério. A energia de Ra-Hoor-Khuit é dinâmica e vigorosa, simbolizando a derrubada das antigas estruturas e o estabelecimento de uma nova ordem através da força e do confronto.

1. Guerra e Vingança: Ra-Hoor-Khuit é retratado como uma divindade guerreira feroz. No Livro da Lei, ele declara:

“Eu sou o guerreiro Senhor dos Quarentas: os Oitentas se acovardam diante de me, & são afundados. Eu vos trarei a vitória & alegria: Eu estarei nas vossas armas em batalha & vós deleitareis em matar. Sucesso é vossa prova; coragem é vossa armadura; avante, avante em minha força; & vós não retrocedereis de qualquer!” (AL III:46).

Esta passagem reflete seu papel como um destruidor de sistemas, crenças e restrições ultrapassadas, abrindo caminho para o novo aeon. Sua natureza marcial tem o propósito de inspirar os thelemitas a afirmarem sua verdadeira vontade com coragem e determinação.

2. Poder Solar e Régio: Proveniente de suas raízes egípcias, Ra-Hoor-Khuit mantém o simbolismo solar, representando o sol em seu zênite — poderoso, radiante e inflexível. Sua associação com Hórus o vincula à realeza e à autoridade divina, mas em Thelema essa realeza se internaliza: cada indivíduo é um “rei” ou “rainha” por direito próprio, soberano sobre seu próprio destino.

3. Transformação e Libertação: A energia de Ra-Hoor-Khuit é transformadora, incitando os seguidores a superar limitações, abraçar sua força interior e viver de acordo com sua verdadeira vontade. Ele é um deus da ação.

4. Dualidade com Hoor-paar-kraat: Ra-Hoor-Khuit e Hoor-paar-kraat representam dois lados de Hórus em Thelema. Enquanto Ra-Hoor-Khuit é a face externa e ativa, Hoor-paar-kraat é a face interna e passiva, simbolizando o silêncio, o mistério e a criança divina interior. Juntos, eles incorporam um equilíbrio entre ação e contemplação, um tema fundamental em Thelema.

Crowley descreveu Ra-Hoor-Khuit como um deus de cabeça de falcão, sentado em um trono, frequentemente representado com um disco solar, refletindo suas origens egípcias. Sua imagem frequentemente inclui elementos de fogo e sol, enfatizando seu papel como um deus da luz e da força. No Thoth Tarot, Ra-Hoor-Khuit está associado ao ATU do Aeon (substituindo a tradicional carta do Julgamento), que representa a transição para o novo aeon e apresenta Hórus em suas formas duais.

Ra-Hoor-Khuit é uma divindade de empoderamento em Thelema. Os praticantes frequentemente o invocam para canalizar coragem, superar obstáculos e afirmar sua vontade em alinhamento com seu verdadeiro propósito. Sua energia é vista como um catalisador para a mudança, tanto em nível pessoal (rompendo com a programação social ou com medos pessoais) quanto em nível coletivo (desafiando paradigmas culturais ou religiosos ultrapassados).

No Livro da Lei, Ra-Hoor-Khuit emite mandamentos que às vezes são interpretados como chamados literais à ação, como:

“Misericórdia esteja fora: amaldiçoai os que se apiedam! Matai e torturai; não poupeis; sede sobre eles!" (AL III:18).

Tais declarações encorajam os indivíduos a rejeitarem fraquezas internas (como a dúvida ou a conformidade) em vez de promover danos a outros. Contudo, essas passagens têm sido alvo de intensos debates e interpretações dentro das comunidades Thelemicas.

Em Thelema, vemos Ra-Hoor-Khuit como a divindade regente do Aeon de Hórus, um tempo em que a humanidade abraça o individualismo, a auto-expressão e a liberdade espiritual. Acreditamos que a energia marcial de Ra-Hoor-Khuit é necessária para desmantelar as estruturas opressoras do aeon anterior, tais como a religião dogmática e a moralidade restritiva, e para inaugurar uma nova era de iluminação e soberania pessoal.

Na prática Thelêmica contemporânea, Ra-Hoor-Khuit continua a ser um símbolo poderoso de força, ação e transformação. Alguns Thelemitas o veem como um arquétipo psicológico, representando a parte assertiva e flamejante do eu que impulsiona a alcançar seus objetivos. Outros o abordam como uma divindade literal ou força espiritual a ser invocada em rituais. Seu papel em Thelema deve continuar a inspirar discussões sobre poder, liberdade e o equilíbrio entre a vontade individual e a responsabilidade coletiva.

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